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EU APANHEI E NÃO MORRI POR CAUSA DISSO...



Eu concordava com a frase “Eu apanhei e não morri por causa disso” e a repetia sempre que o assunto surgia. 
Até que um dia eu me dei conta da quantidade de feridas que carregava.
Neste momento eu passei a refletir a respeito: Se eu tivesse apanhado menos, teria menos dificuldades em fazer amigos? Teria menos dificuldades em me relacionar com as outras pessoas? Seria uma pessoa mais plena, mais feliz?

Tem um ditado popular que eu ouvi muito durante a minha infância: “Pé de galinha não mata pinto”. Ele era repetido como uma  justificativa as surras.
As surras não matam mas humilham, deixam marcas tão profundas e dolorosas que afetam toda a nossa vida adulta.
Não matam mas prejudicam a nossa auto estima e podem nos fazer enfrentar problemas no relacionamento com os outros, inclusive com os nossos próprios pais e nossos filhos.
Surra não mata mas traz problemas emocionais graves como insegurança, ansiedade entre outros. 
A surra não matou as pessoas que, para esquecer suas angustias, precisam se entregar à bebida, antidepressivos ou outras drogas. Não matou todas essas pessoas ansiosas, inseguras, solitárias e infelizes que vivem suas vidas sedentas de um pouco de atenção e carinho.
A questão é que batemos em nossas crianças para aplacar a nossa raiva e a nossa sensação de impotência diante de algum comportamento com o qual não sabemos lidar.
Batemos quando não conseguimos controlar as nossas emoções. Bater é mais fácil do que dialogar, tentar entender, reconhecer que não sabemos de tudo.
Educar uma criança requer humildade para revelar toda a nossa vulnerabilidade. Somos tão condicionados a ensinar, controlar, pregar sermões que acabamos esquecendo que também podemos aprender muito com as nossas crianças.
Se tivermos paciência para construir vínculos de amor e respeito com nossos filhos, não precisaremos bater, muito pelo contrário, começaremos a trilhar juntos um caminho de aprendizado mútuo. As lições que nossos filhos nos ensinam são muitas, de generosidade, tolerância, integridade, coragem, curiosidade, entre tantas outras.

 "A relação afetiva entre pais e filhos é algo construído no dia a dia, defende a psicoterapeuta Lucia Rosenberg. A especialista em relações familiares afirma que o amor cresce junto com os medos, os risos, as brigas e as conquistas cultivadas todos os dias. “Intimidade não se inaugura. É construída. O amor em família não nasce pronto”.

Ao invés de bater podemos nos abrir para cultivar a intimidade com nossas crianças. Se interessar pelos assuntos deles, perguntando sobre suas rotinas, suas atividades, seus problemas, seus sentimentos e necessidades com curiosidade genuína, sem julgamentos.
Por trás de cada comportamento há uma necessidade
Ao invés de bater, podemos tentar entender por que estão agindo de determinada maneira, o que está por trás de determinado comportamento, o que a criança está tentando nos comunicar.
Se levarmos o comportamento da criança para o lado pessoal, ficaremos chateados e propensos a revidar batendo ou aplicando qualquer outra forma de punição.
Mas se, ao contrário, conseguirmos perceber que a criança pode estar apenas cansada ou assustada ou implorando por atenção, entenderemos que não é pessoal, que ela não tem a intenção de nos desafiar ou aborrecer.
Se conseguirmos nos colocar no lugar deste ser que está aprendendo a viver, nos tornaremos mais pacientes, mais afetuosos e isso vai nos ensinar a lidar com as nossas próprias emoções.

E quando os pais não sabem mais o que fazer?

As crianças levam os pais a alguns limites e muitas vezes não sabemos mesmo o que fazer. Sentar e chorar com a criança é melhor do que bater, afirma a psicoterapeuta Lucia Rosenberg.
Naqueles momentos em que estamos prestes a perder o controle podemos pedir um tempo, podemos dizer para a criança: “Olha, agora eu não consigo falar com você, vou para o quarto um pouco até eu me acalmar, depois conversamos.”
A criança pode fazer tudo o que ela quiser e eu não posso bater?
Não bater nada tem a ver com permissividade. É importante perceber que é possível impor limites sem violência e humilhações. Não há garantias e nem fórmulas mágicas, cada criança é única e cada mãe também é.
Mas o primeiro passo é tentar entender qual é a necessidade que a criança está tentando comunicar com determinado comportamento. Procurar identificar essa necessidade, se colocar no lugar da criança é uma atitude muito importante.
Por exemplo, quando a criança faz manha porque não quer sair do parquinho, o melhor é agachar, para ficar na altura dela, e dizer que a entende: “Olha filho, eu sei que você gostaria de ficar mais, eu entendo que você está triste, eu entendo você mas não podemos ficar mais, nós temos mesmo que ir embora”.
É claro que isso não vai surtir efeito imediato mas com o tempo, à medida que a criança for se sentindo compreendida e amada, tudo ficará mais fácil.

"Criar nossos filhos nos expõe com frequência a situações conflituosas entre a nossa mente e o nosso coração, de tal forma que a tarefa de educar uma criança pode ser comparada a andar na corda bamba. Uma única resposta mal dada pode desencoraja uma criança, enquanto que o comentário correto é capaz de fazê-la subir às alturas. A cada momento podemos escolher construir ou derrubar, incentivar ou congelar."

Dra. Shefali 




 


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